Trânsito: Do Original à Edição

Vista da exposição

Vista da exposição

Trânsito: Do Original à Edição | 2016

Gary Hume, Leda Catunda, Lucas Arruda, Paul Morrison e Sonia Gomes

Os artistas reunidos nesta exposição têm uma produção que transita entre obras originais, como pintura, escultura ou objeto, e obras em edições limitadas, como a gravura. São todos nomes de relevância na arte contemporânea que se dedicam com o mesmo cuidado, interesse e apuro técnico a diferentes linguagens, permitindo que o espectador tenha acesso não apenas às suas obras únicas, singulares, mas também às suas obras reproduzidas em uma edição limitada.

Essas edições, limitadas a uma pequena tiragem, carregam uma espécie de “aura” de unicidade do objeto artístico original, se relacionam profundamente com as questões de interesse na produção do artista, são tecnicamente tão complexas quanto as obras originais e possibilitam a democratização ao serem comercializadas.

As edições oferecem oportunidade para o artista atuar em um suporte que não é o seu de costume. Tornam-se, portanto, um desafio e exigem do artista a mesma dedicação técnica e conceitual que as obras originais.

Suas edições descendem dos originais, isto é, são vinculadas às questões de principal interesse na pesquisa dos artistas.

Nas xilogravuras de Leda Catunda o exercício da acumulação e sobreposição, que observamos em seus objetos, têm continuidade. São gravuras que transportam imediatamente o espectador para os seus objeto-pinturas,  construídos de camadas moles e flexíveis. Trabalhos que questionam a tradição pictórica através do uso de tecidos costurados, estufados sobre os quais a artista pinta e resgata o imaginário popular, a idéia do artesanal, do decorativo e das narrativas de histórias infantis.

As gravuras de Sonia Gomes, assim como os seus objetos, são construídas de tecidos usados, antigos, impregnados de história e memória de seus usos. A artista dá continuidade em suas gravuras ao modo artesanal que faz do recorte, da colagem, do entrelaçamento com que tece o emaranhado poético dos seus objetos,  carregados de referências da arte popular.

Gary Hume leva às suas serigrafias o mesmo interesse de suas pinturas pelas superfícies lisas, uniformes, esmaltadas.  Tradicionalmente influenciado pelo Minimalismo e pela arte Conceitual, Hume passou a se interessar em meados dos anos 90 por formas simplificadas e sinuosas, de cores vivas e chapadas. Imagens influenciadas pela Pop Art. As silhuetas que cria são baseadas em imagens de mulheres, plantas, animais que encontra nas propagandas. Em suas gravuras, Hume revisita o imaginário que usou em suas pinturas apenas exercitando-se em outra escala.

Lucas Arruda transpõe para a sua edição de gravura o mesmo assunto de seu interesse nas pinturas: paisagens dissolvidas, imagens etéreas. Sonhos? Lembranças? O espectador, ao olhar seu trabalho,  experimenta, segundo o artista, uma sensação de suspensão  temporal, metafísica. Passagens cromáticas do claro ao escuro, variações de luminosidade, lugares sem “peso da linguagem”.

Paul Morrison é conhecido por suas enormes paisagens botânicas monocromáticas. Tanto suas pinturas quanto gravuras ou esculturas causam estranhamento pela desproporção dos elementos desenhados. Sua forma de desenhar elementos figurativos parecem calculados para testar os limites da quantidade de informação visualnecessária para se representar uma paisagem sem criar a ilusão do natural. O artista se apropria de imagens de fontes estilísticas diversas como gravuras do período renascentista, pinturas sobre botânica, fotografias e desenhos.

Ao reunir trabalhos de fases e épocas distintas desses artistas, a Mostra Trânsito: Do Original à Edição enfatiza a grande permeabilidade entre técnicas na produção contemporânea.

Georgia Lobacheff