Artista, o Substantivo no Feminino

Artista, o Substantivo no Feminino

A artista. As artistas. Nesta exposição, como sugere o título, o substantivo se apresenta apenas no feminino. Dessa forma, subvertendo a compreensão etimológica da palavra - uma vez que “artista” é um sujeito dotado de uma necessidade intrínseca de atravessar a realidade do mundo através de uma poética onde as possibilidades narrativas são infinitas - salientamos sua fonética no feminino e despertamos uma reflexão a partir de um gênero do sujeito artista.

Diante de tais questões, reunimos as obras de Catherine Yass, Elizabeth Magill, Rachel Whiteread, e das brasileiras Sonia Gomes, Leda Catunda e Cris Rocha, que apesar das diferentes materialidades e questões particulares, juntas, criam uma aura feminina que nos conecta à presença relevante e necessária das mulheres artistas na arte contemporânea.

A série de Sonia Gomes é composta por 3 edições que reproduzem sua obra original: um livro de fábulas dos anos 50, onde a artista explora tecidos carregados de histórias, interferindo com colagens, costuras e desenhos sobre cada página desse objeto que detêm em seu corpo a fantasia das fábulas e cria, assim, uma obra que une o fantástico já existente no suporte livro às narrativas de seu imaginário lúcido.

Em suas gravuras, Leda Catunda dá continuidade à ideia das construções em camadas, onde dominam as formas maleáveis, sobreposições e, sobretudo, a atmosfera lúdica que é tão presente em sua produção. Leda expõe em sua obra as formas acaloradas de uma cultura miscigenada como a do Brasil, seu trabalho compreende uma forma icônica que remete ao fruto que vai de encontro as aspirações do tropicalismo.

Ao mesmo tempo, as obras de Cris Rocha exploram linhas sinuosas, formas ondulantes e transparências criadas pela combinação dos processos tradicionais de gravura em metal que se estendem às possibilidades da manipulação digital. Dessa forma, a artista transita pelo experimento híbrido obtendo uma linguagem singular.

As duas obras de Rachel Whiteread presentes na exposição dialogam com as esculturas feitas a partir de moldes de objetos de seu cotidiano, sugerindo novos significados a essas réplicas permeadas por memórias.

Elizabeth Magill editou a série “Venice” a partir das chapas de monopritns recondicionadas com diferentes cores que resultam em gravuras capazes de envolver o espectador pela narrativa romântica das imagens profundamente silenciosas baseadas em cenários da cidade de Veneza.

As oito gravuras em metal da britânica Catherine Yass são construídas à partir das películas descartadas de um filme mudo produzido em 1932. Os traços abruptos intensificam o drama e o suspense presente nas cenas de Safety Last.

A partir das edições que compõem a exposição, nota-se a multiplicidade dos meios discursivos explorados por essas artistas sobre um suporte não habitual em suas produções. A pluralidade existente entre as temáticas, técnicas e gestos presentes nas obras, se encontra através do olhar poético sobre o sensível que permeia cada composição, possibilitando imergir em diferentes cenários onde são contadas histórias criadas por mulheres de diferentes gerações e trajetórias a partir da mesma posição que as permite explorar suas reflexões e mostrá-las ao mundo: ser artista.

Marília Borges